14 de dezembro de 2012

Albinos & Gêmeos

São inúmeras as crenças acerca dos albinos e dos gêmeos na África.
Pensamentos que vêm desde a época das tribos, eu acho. Teorias criadas para o que parece inexplicável.
Até hoje existem muitas pessoas que "não gostam" dos albinos por aqui. Acreditam que eles possuem feitiço. O tão falado feitiço que já descrevi aqui antes.
Ouvi no rádio essa semana, que na Tanzania ocorreram alguns episódios em que pessoas mataram albinos para guardar pedaços em casa ou para comer pedaços, porque acreditam que eles curam doenças.
Estava no trabalho e ouvi também um funcionário dizer que não queria falar com duas meninas, crianças ainda, gêmeas. Porque, segundo ele, elas podem dar e tirar a sorte de uma pessoa. Então ele preferia não arriscar.
E o albinismo pode ocorrer em qualquer raça, mas sua freqüência é maior na raça negra...

16 de julho de 2012

2 anos em Angola

Como o tempo passa rápido!
Vim para cá determinada a trabalhar muito.
Me lembro de estar sentada ainda no avião, vendo já a cidade de Luanda logo abaixo pela janela, e de sentir um grande frio na barriga. Aquele misto de medo e ansiedade. "O que será que me espera"?! Aqui o destino me reservou surpresas muito boas. E tanto foi assim, que já se foram 2 anos!
Onde menos esperava e quando menos esperava encontrei um companheiro lindo, Daniel. Que me ajudou e me deu força ao longo desse período.
Dois anos de vida que jamais esquecerei. De muitas experiências; de aprendizado.
E não falo apenas profissionalmente. Mas me peguei pensando também: "Será que eu mudei"? Meu modo de ser, minha forma de enxergar o mundo?
E só posso esperar que sim!
Com certeza aquela que voltará não será a mesma que chegou. Esta estava pronta para encarar os desafios. Aquela vai ainda buscar por outros. Novos desafios! E que sejam tão felizes quanto os que encontrou por aqui.

Mulenvos

Hoje fui com um grupo participar num projeto que atende crianças carentes, na região de Mulenvos.
A princípio eu tinha pensado que fosse um bairro de Luanda, mas na verdade é um município.
Acho que nem em meu próprio país eu jamais tenha me aproximado tanto da pobreza extrema. A pobreza da fome. Da ausência total de saneamento básico e assistência médica.
As casas em si até me surpreenderam, porque são feitas de blocos de concreto e não de barro ou telhas de amianto, como já vi muito no interior de Angola.
Mas ainda assim não há água. Existem alguns pontos de distribuição bem distantes uns dos outros. As mulheres vão com seus baldes e bacias e depois voltam carregando aquele peso na cabeça.
Quando chegamos ao local, já havia várias crianças esperando.
Alguns marionetes chamaram a atenção deles. Fiquei admirada como uma brincadeira simples trouxe tantas risadas.
Mas com algum tempo eles ficam inquietos, brigam uns com os outros; os bebês choram.
Uma criança fez cocô ali mesmo na lona. Os que estavam ao lado reclamaram.
Chega então a tão esperada hora de ganharem o lanche. Um pão e um copo de suco. Simples assim, pão sem nada mesmo.
Mas as crianças se espremem e se empurram na fila.
Uma garotinha, muito esperta, tinha uma caixa de papel na mão. Brincou com ela a manhã toda e eu até então não tinha entendido qual a graça que ela via naquilo como brinquedo. Mas logo a vimos pegando o pão e colocando dentro da caixa. Voltava para o final da fila pra tentar pegar outro. E assim ela já ia para o terceiro. É a lei da sobrevivência.
Os irmãos cuidam uns dos outros. Os mais velhos cuidam dos mais novos. Até aí, tudo bem. Mas vi crianças que aparentavam ter entre 8 ou 10 anos carregando bebês bem pequenos. Um deles claramente não tinha sequer 1 ano. Uma criança carregando outra nas costas, amarrada com os panos.
Várias delas apresentam sintomas de parasitoses. Mas mesmo dando os medicamentos, como ensinar sobre higiene num ambiente assim? Como dizer que devemos lavar as mãos e lavar os alimentos se praticamente não há água? Se vivem em casas sem sequer um vaso sanitário.
Ali mesmo algumas crianças deixavam o pão cair no chão, mas pegavam logo e continuavam a comer.
Ao final tínhamos ainda uma doação de feijão para distribuir. Um dos pacotes rasgou e o feijão caiu e se espalhou, misturou com a terra. Minutos depois vejo uma senhora abaixada no chão, catando grão por grão pra levar. E ela disse: "Hoje vou comer mesmo bem!"
Não tem como sair de um lugar desses sem pensar na própria vida.
Pensei no quanto eu tenho TUDO.
É uma realidade muito distante. Acho difícil até conseguir imaginar como é a vida ali. Por mais que eu tente me colocar no lugar deles, não sei se tenho essa capacidade.









11 de julho de 2012

Etosha


Com uma área de 22.750 km ², o parque é administrado por uma empresa nacional, a NWR - Namibian Wildlife Resouces.



Logo que entramos pela King Nehale Gate andamos poucos quilômetros e encontramos vários leões. Confesso que fiquei apavorada. Queria tirar fotos, mas ao mesmo tempo fiquei morrendo de medo. Estávamos dentro do carro e à nossa volta pelo menos uns 6 leões bem grandes. Eles não se escondem. Pelo contrário, nos encararam e eu entendi claramente "saia já"! Em seguida encontramos girafas altíssimas.
Mas já era tarde e precisávamos chegar logo ao acampamento. Os portões se fecham com o pôr-do-sol.
Nossa primeira noite foi em Namutoni.
O acampamento foi construído ao redor de um antigo forte alemão. A área do forte é apenas para acesso à pé.




A acomodação surpreendeu positivamente. Um verdadeiro luxo no meio do nada. Ficamos no "Bush Chalet" que é muito confortável e me fez desejar poder ficar mais dias ali.
Jantamos no restaurante ao ar livre e luz de velas. Tudo perfeito!

Etosha, que significa "lugar de água seca", se localiza numa enorme depressão plana de cerca de 5 000 km ². A chamada 'Pan' é uma grande área, como uma espécie de miragem. O fundo branco-prateado cintilante a perder de vista dá sempre a impressão de que logo adiante no horizonte ainda há água. Realmente parece ter havido um imenso lago. Ao pisar a sensação é de solo argiloso, escorregadio. O barro gruda e seca no calçado. O restante da paisagem é de savana semi-árida, pastagens e matagal de espinhos.


O Oryx é símbolo nacional e está no brasão do país. Assim como a "African Fish Eagle" e a Welwitschia, planta típica do deserto. E todos eles podem ser vistos no parque.





Os lagos, iluminados à noite, permitem a observação dos animais. Como pudemos ver em Okaukuejo:
Zebras estão espalhadas por todo o horizonte, enquanto os muitos poços atraem o famoso e ameaçador rinoceronte preto, além de leões, elefantes e um grande número de antílopes.
O show aqui é dos animais. É muito legal poder vê-los assim bem de pertinho,  em seu habitat natural!
A única coisa difícil pra mim no Safari foi acordar tão cedo. Mas o nascer do sol também deu seu espetáculo à parte.











Namíbia


A Namíbia foi colônia alemã a partir de 1884. Após a primeira guerra mundial teve seu território administrado pela África do Sul e posteriormente pela Liga das Nações/Nações Unidas. A independência só veio em 1990.

O idioma que ficou foi o inglês, mas o que vi foi a grande maioria da população falando dialetos. Entre eles é praticamente só o que usam. Alguns quase não falavam inglês. Claro que isso pode ser a realidade da região por onde passei.
A moeda é o dólar namibiano, que tem taxa de câmbio atrelada ao Rand Sul-africano. E por esse motivo o Rand pode ser utilizado também.
É considerada um dos países mais estáveis e acessíveis da Africa.
Desci de carro e atravessei por via terrestre a barreira Angola/Namíbia em Oshikango.
O processo é razoavelmente simples, porém demorado.  Tivemos que descobrir os balcões onde fazer cada etapa.


Na saída da Angola a alfândega se preocupa basicamente com a evasāo de divisas, já que a sua lei proíbe a saída da moeda nacional. E também com a saída de combustível, já que a diferença de preços entre os países é grande.
Eu tinha lido que poderia ter dificuldades para abastecer na Namibia e que por isso era recomendado levar um reservatório. Logo que chegamos um homem querendo nos "auxiliar", uma espécie de despachante,  disse que teríamos que dar dinheiro aos oficiais para passar com o Diesel.
No fim conseguimos nos explicar e isso não foi necessário.


No sentido contrário vi muitos Angolanos tentando entrar com diversos produtos trazidos da Namibia. O milho, muito produzido na Namibia tem entrada proibida e os Angolanos adoram para fazer fuba e o tradicional funghi.
O que não entendi é porque os Angolanos não plantam. Afinal, a vegetação é muito parecida nas regiões próximas à fronteira e imagino que as características do solo também.
A sensação é de que a Namibia esta anos-luz à frente. Muito mais organizada. Muito menos corrupta.
Na barreira de entrada da alfândega de Angola vimos um cidadão encostar um carro completamente lotado de produtos e dar dinheiro ao policial. Foi liberado e saiu direto. Sem a menor discrição. Tudo ali pra quem quiser ver.
Pessoas passando a pé. Mulheres carregando um mundo na cabeça. Policiais batendo nas caixas, dando ordens para seguir ou parar. Gente passando direto, enquanto outras esperavam por um carimbo. Uma confusão.
Passamos por Ondangwa, cidade um pouco maior e na qual percebe-se a grande influência sul-africana. Seguimos e almoçamos num restaurante típico em Omithyia. A carne de caça é tradicional. Comi e amei a carne de Kudu! Esse animal nas foto abaixo. Vi também muito "fish and chips".
 Continuamos seguindo na direção Sul para chegar ao Etosha National Park.
Mas esse merece um post a parte.
Quero ainda deixar aqui algumas fotos da paisagem na beira da estrada e das pessoas pelo caminho.



7 de maio de 2012

Fura-fila

"O psicólogo Fábio Iglesias propõe que o estudo das filas possa ser usado como instrumento prático para analisar valores culturais em um eixo que vai do individualismo ao coletivismo. Se alguém perguntar a um americano quem é ele, provavelmente irá contar seu nome, profissão e gostos pessoais. "Se fizer a mesma pergunta a um brasileiro, há mais chances de que ele diga a qual família pertence, de qual religião é adepto ou para qual time de futebol torce", diz Iglesias. Ou seja, o brasileiro costuma identificar-se mais com grupos. Em uma cultura mais individualista, como a americana, as pessoas tendem a ser mais autônomas, e espera-se que reclamem mais quando alguém fura fila porque o outro está invadindo seu espaço. Já no Brasil os indivíduos precisam mais do grupo para guiar suas atitudes. Quando vêem um "furão", provavelmente vão reparar nas atitudes dos companheiros antes de dizer qualquer coisa".
 Revista Galileu, Agosto de 2005.

Esse texto me fez repensar sobre um fato que eu detesto em Angola. O irritante hábito de furar filas:
No transito é normal ver aquele apressadinho ultrapassando pela direita e se enfiando na sua frente.
No supermercado sempre vai ter algum tentando entrar na sua frente.
No restaurante, no shopping, ou onde quer que possa haver uma fila, aqui chamado de "bicha", sempre haverá a figura do famoso fura-fila. Esse ser que me tira do sério.
E sempre me impressionou a complacência dos demais Angolanos. Que quando presenciam calados.
Eu lá, pronta pra armar um belo barraco e mandar o folgado para o final, para esperar como eu fiz e todos os outros fizeram. Mas eles não. Ficam mudos, assistem parados.
E eu que semper achei que fosse uma questão simplesmente de educação, agora vejo um pouco mais além. Eis aí outro motivo: a sua identificação na coletividade. E quem sabe até um aspecto superior ao ser menos individualista. 

3 de maio de 2012

Pedacinho da China em Angola



Tive a oportunidade de passar alguns dias convivendo com chineses em Angola.
Nos receberam numa pequena casa. Sala grande com sofá, tv a cabo e home theater. Banheiro com um boiler moderníssimo. Pelo controle remoto escolho a temperatura da água fria e da água quente.
Quarto com uma cama king size e até um chinelinhos de boas-vindas nós encontramos.
Trabalham aqui e mesmo sendo muito jovens são diretores da empresa. O mais velho tinha 31 anos. Um deles apenas 24. Provavelmente fruto da disciplina e educação.
Perguntaram o que iríamos beber e acompanharam tomando a mesma coisa: cerveja. E achei graça no dia seguinte quando fui almoçar, e lá estavam eles nos esperando com cerveja na mesa. rs
Acho que entenderam que sempre tomávamos cerveja com as refeições.
As chinesas tomaram leite de soja. Junto com a comida realmente não consigo imaginar.
No quarto tinha também um frigobar. Tudo vindo diretamente da China. Eles disseram que mandam muitas coisas de navio pra cá. Chás gelados, leite e suco de coco. 






Eles adoram os chás.
Experimentei esquentar a água numa daquelas chaleiras elétricas. Depois coloca a erva seca do "famous chinese tea" numa outra chaleira de porcelana, coloca a água quente e serve. Sem açúcar nem adoçante. O chá deve ser tomado assim mesmo.
Eu que já não sou muito fã, confesso que não gostei muito.
Eu já tinha ouvido dizer que eles não tinham hábitos muito higiênicos. Mas tudo o que vi estava extremamente limpo.
As condições do lugar para a região de Angola em que nos encontrávamos eram realmente excelentes.
Acho que é como generalizar ao falar dos 'brasileiros'. Seria como achar que todo brasileiro é igual e gosta das mesmas coisas.
A China, além de extensa em território, é extremamente populosa e inevitavelmente multicultural. 1,4 bilhões de pessoas!
É claro que os presidiários que prestam serviço em Angola devem ter hábitos tão selvagens quanto as regiões onde vão trabalhar.
Mas aqueles que verdadeiramente se sobressaem num país com tanta gente, estes com certeza são no mínimo extremamente esforçados.
Adorei a experiência e acho que temos muito a aprender com essa nação que cresce tanto. Quem sabe em breve mando um post diretamente de Beijing?! Seria um sonho...