21 de dezembro de 2011

Mais um Natal em Angola.

Eu estava aqui relendo o que escrevi no ultimo Natal. E comparando com a forma como estou me sentindo este ano.
A saudade da familia e dos amigos é sempre presente. Queria poder participar dos amigo-ocultos, dos encontros de fim de ano. A família reunida para uma ceia.
Mas dessa vez o meu coração não esta tão apertado. E quando faço aquela retrospectiva me sinto ainda mais agradecida por tudo que realizei neste ano.
Dessa vez as comemorações estão marcadas pelo clima de praia... :)

Me sinto extremamente feliz e tenho comigo alguém muito especial, guardado no coração!
E ainda tem gente que diz que não gosta das coisas de coração! Como é que pode?!


14 de dezembro de 2011

Campanha de Vacinação

Esta em vigor a campanha de vacinação contra a raiva em Luanda. A recomendação que ouvi no radio foi:
"Traga seu cão, seu gato ou seu macaco".
Em seguida entrevistavam as pessoas no local:
_ "O Senhor trouxe seu macaco? Ele ja foi vacinado?
_ Estou a aguardar. Será vacinado agora.
_ Sim. Pois. Eh importante mesmo já que há pouco houve o caso de um macaco que estava a morder as pessoas. O Senhor ja teve problemas com o seu macaco?
_ Nao. Nunca.
_Que tipo de macaco é esse?
_ Nao sei".


23 de novembro de 2011

Piadinha Tugas X Mwangoles


Recebi a piadinha de um Angolano.

Racismo... 

- Como te chamas? - pergunta a professora.
- 'Kinaxixi' - responde o puto.
- Estamos em Portugal e não há cá Kinaxixis, isso era lá em Angola. Daqui para a frente chamas-te 'Joaquim' - diz a professora.

À tarde, Kinaxixi volta para casa.
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi? - pergunta a mãe.
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
- Ah, tu tens vergonha do teu nome, da tua raça e renegas os teus pais! - A mãe fica danada e enfia-lhe uma galheta bem aviada.

Chega o pai a casa e faz a mesma pergunta:
- Correu-te bem o dia, Kinaxixi?
- Já não me chamo Kinaxixi, mas sim Joaquim, porque agora vivo em Portugal.
Diz o pai: - Ah, tu tens vergonha do teu nome e da tua raça? Então, até renegas os teus pais...
Kinaxixi oferece a outra face e leva mais uma galheta.

No dia seguinte quando chega à escola, a professora, reparando nas marcas dos dedos na cara do miúdo, pergunta:
- O que foi que te aconteceu, Joaquim?
- Bem, professora, mal me tornei português... fui logo agredido por dois pretos!...

13 de novembro de 2011

11/11/11


O dia da independência nacional em Angola foi celebrado este ano no Kwanza Norte.
Celebrando 36 anos da libertação de Portugal e também paz, já que 27 desses anos foram em guerra.
Mas vendo essas celebrações de independência e ouvindo na tv e no rádio as mensagens à população, o que vejo é ainda um discurso de "recém" ex-colônia. Uma aversão aos estrangeiros que beira a xenofobia.
Concordo que o país precisa se fortalecer e oferecer melhores condições à sua população para que ela possa ocupar seu mercado de trabalho. O que ainda falta mesmo é uma distribuição mais justa desse país tão rico, que possui além dos diamantes, tanto petróleo. Faltam infra-estrturas básicas e acesso à saúde e educação.
Seja na Angola, no Brasil ou em qualquer outro país, eu gostaria de poder acreditar na utopia da inexistência destas barreiras. As barreiras burocráticas dos vistos e das exigências que podem permitir ou impedir a nossa presença em determinado lugar do mundo. Porque criamos raízes e deixamos um pouco de nós nesses lugares.
Gostaria de pensar que independente da nacionalidade as pessoas pudessem trabalhar ou viver onde seu trabalho for bem-vindo, necessário; ou onde elas julgassem ser o lugar ideal. O clima, os amigos, a vida que se leva, enfim... liberdade. Ou não será esse o verdadeiro significado de independência?


.:Angola:.


4 de outubro de 2011

As Pedras de Pungo Andongo

As Pedras de Pungo Andongo definitivamente merecem uma visita.
Cercadas de crenças e lendas, la podemos ver as famosas pegadas da rainha Ginga. Realmente eh curioso ver as pegadas na propria rocha. E dai surgem as historias.
Na minha imaginação o que veio foi a larva vulcânica solidificando, em alguns pontos ainda um pouco quente, e essa pessoa caminhando. Pronto. Feito deixar a marca no cimento. Mas é pura imaginação. Assim como talvez sejam tantas as historias neste lugar.


As formações surgem gigantescas em meio `a vegetação tao plana.
Outra curiosidade fica no alto de uma das rochas. Algumas escadas auxiliam na subida. La existe um mirante e as pessoas juntam pedras menores para fazer as chamadas 'igrejinhas'.
Um castelinho de pedras onde devemos deixar nossos desejos, pedidos, agradecimentos. Sao varias delas espalhadas no topo da montanha.

A vista é magnifica. La embaixo vemos a pequena comuna no meio das rochas.



E por fim, as famosas Pedra-Homem e Pedra-Mulher.

3 de outubro de 2011

Províncias


Conheci algumas cidades no interior do país.
N'Dalatando, capital do Kwanza Norte, é um cidade grande. Foi um dia conhecida como "cidade jardim". Entretanto hoje não se vê isso mais. O melhor jardim por lá era o meu mesmo. E olha que eu já falei sobre isso... minha nota é 1 ou 2 em jardinagem.
Quibaxe, por sua vez, é bem pequena.
O que acho muito curioso quando pesquiso sobre essas cidades na internet, porque o que se encontra são sempre relatos muito antigos, com belas fotos. E a realidade que se vê hoje é a da destruição que a guerra causou.
Para mim é muito estranho para mim que uma cidade tenha aparência melhor em 1960 que em 2011.
A reconstrução avança, mas é inevitável pensar no tempo perdido. 
Ao longo das estradas vemos aquelas comunas bem pequenas mesmo. Muitas vezes no meio do nada. Para mim a impressão é de serem quase indígenas mesmo. Vivem dos animais que caçam na mata, dos peixeis que pescam quando ha rio ou o mar por perto. Colhem frutas, plantam verduras. Vendem vários desses produtos para conseguir algum dinheiro e obter o que falta.
Mas as casas são feitas na sua grande maioria de barro.
Vemos mulheres caminhando com uma bacia imensa na cabeça e a catana pendurada. Levam lenha, água, ou o que mais for preciso.
E devem caminhar distancias enormes porque as vezes passo por elas e percebo que a próxima comuna fica a quilômetros de distancia.
E o sol rachando.
Outra coisa que me impressiona sempre na beira da rodovia são os miúdos. Crianças muito pequenininhas mesmo.
Lembro da minha mãe cheia de zelo segurando minha mão para atravessar a rua. E chega a parecer um exagero quando vejo aqueles bebes brincando ali e um caminhão enorme passando a 80km/h. De repente um deles deixa a bola ir pra onde nao devia, ou corre atras de um animal, ou simplesmente resolve atravessar.
E os animais são outro problema. Sao galinhas, porcos e bodes.
Ficam soltos ali na beiradinha também. E pobre do motorista que atropelar. Outro dia queriam cobrar U$100,00 por um porquinho.
Nas comunas existe sempre o 'soba'. Ele é um misto de prefeito com líder espiritual. Mas o cargo é hereditário, passa de pai para filho. Ele guia a comunidade e toma algumas das decisoes, resolve problemas.
A maior realidade ao longo do que percorri foi a pobreza e o contraste.

2 de outubro de 2011

África do Sul

Sou apaixonada por elas!



O que dizer sobre a Africa do Sul?!
Acho que a essa altura já tenho a África no coração. Ou será no pescoço? rs
E amei essa combinação com as girafas. Que amo e já coloquei fotos aqui da minha visita ao Kissama.



Lions Park.
E quando vejo os leões sinto uma saudade do meu cachorro!!!



23 de setembro de 2011

Dona de casa


Tenho tentado ser dona de casa em Angola.
Como a grande maioria das mulheres modernas que conheço, não tenho lá tantos dotes culinários assim.
Fui buscar ajuda na internet. Me recomendaram blogs incríveis com dicas desde receitas, a idéias criativas sobre como organizar a mesa, decorar, etc.
Pensando em como ocupar o tempo comprei sementes para plantar um cheirinho verde: coentro, cebolinha, salsa. E ate mesmo flores para enfeitar o jardim.
Bom, começando pela jardinagem... Peguei também algumas plantas que gostei na beira da estrada e replantei. Passei horas cuidando da terra e depois molhando. No dia seguinte tudo murcho. Uma angolana chegou a ter pena de mim. Disse que as plantas que eu escolhi não iriam nascer. Um cubano riu e fez mímicas dizendo em espanhol que estavam muito murchinhas, que meu jardim já era.
Mesmo assim não desisti e fui plantar minhas sementinhas. Pelo menos uma parece que esta nascendo. Ja tentei ate conversar com elas. Bater um papinho amigo, mas por enquanto nada. Ate agora minha nota na jardinagem esta em 1 (pelo esforço apenas).
Quanto a culinária ate que me surpreendi. Achei que não cozinhava absolutamente nada. Mas já fiz algumas massinhas razoaveis, alguns bolos. Ate arroz saiu medio e meu arroz sempre foi péssimo. E a campeã foi a carne com molho de vinho. Mas já consegui uma nota 7. Que já é muito melhor do que eu esperava.
Principalmente pelos percalços que encontrei por aqui.
Pra começar todos aqueles sites fantásticos, cheios de receitas e truques... ESQUEÇA! A internet praticamente não funciona. Quando funciona é tão absurdamente lenta que eu desisto.
Depois vem a aventura do supermercado. Encontrar os produtos que procura. Ingredientes exóticos nem pensar. Nem posso reclamar porque isso ate tem melhorado bastante. Paga-se um absurdo, mas ate se encontram algumas coisas inesperadas. Qual não foi meu espanto quando encontrei pão de queijo congelado! Um sonho pra mim.
Ontem fui fazer um bolo. Sabia que em casa já tinha farinha de trigo, fermento. Comprei alguns outros ingredientes somente e fui pra cozinha.
Logo percebi que precisava fazer clara em neve. Mas é claro que não tinha uma batedeira em casa. E nem aquela molinha que se usa pra bater no braço mesmo. Então tive que bater com qualquer utensílio que encontrei pela frente. Acho que fiquei uns 40 minutos nesse sacrifício. Mas com minhas lindas claras em neve prontas, problema resolvido, ia continuar. Mas quem diz que encontrava a farinha e o fermento?!
Chamei a empregada que trabalha na casa:
_ A Senhora por acaso viu a farinha que estava aqui?
_ Sim, chefe. Eu levei pra minha casa.
Assim. Sem a menor cerimonia.
_ E o fermento?
_ Também levei.
_ E agora, como vou fazer aqui o bolo? Vou perder isso tudo aqui que já preparei?
_ Nao. Eu vou ali comprar e ja trago.
Muito provavelmente ela não tinha dinheiro e deve ter pendurado a despesa em algum mercadinho.
Meia hora depois, minha clara em neve já murcha feito as plantas no jardim, volta ela com um pacote de farinha e o fermento.
Eu sei que é triste a pessoa ter a necessidade de um pacote de farinha. Levar o seu desodorante, papel higiênico, detergente, água. Tudo isso acontece por aqui.
Na hora meu primeiro impulso é de raiva. Mas depois vem a pena mesmo.
_ Quando a senhora precisar de alguma coisa, peca antes. Não tem problema. Mas tem que pedir primeiro. Não pode levar assim. Senão acho que tem e começo a preparar. Ou então deixo de comprar no mercado porque penso que já tem.
Com certeza ela viu essas coisas e teve vontade fazer um bolo na casa dela. Pão, quem sabe…
Brigar ou demitir por isso pode virar até caso de policia. Você é quem vai parar na esquadra por racismo. Esta a comer e não deixa comer. Discriminação. Sem falar no mal estar com a comunidade que vai toda tomar partido dela.
Arrumar outra?! Trocar de problema.
Enfim, já não bastassem meus problemas pessoais como dona de casa ainda tenho que lidar com os sociais.
E o bolo?! Quem comeu disse que estava ótimo! :)

18 de setembro de 2011

Mamão

Estávamos numa casa alugada e resolvi mexer no quintal. Plantei algumas coisinhas tipo cebolinha, coentro, pimenta biquinho, etc.
E de repente fiquei maravilhada com o tamanho de um mamão no pé .
Parecia quase uma melancia, mas ainda muito verde.
Resolvi mesmo assim cortá-lo e deixar na cozinha. Riscar e esperar terminar de amadurecer.
Mas no dia seguinte vem a dona da casa dizer que ela alugou a casa. O quintal não! Para pegar um mamão ela queria cobrar a pequena bagatela de mile kwanzas. (Cerca de U$10).
A casa nos poderíamos usar, mas o mamão no quintal tem dono. Eis mais uma novidade sobre como as coisas funcionam por aqui.
E acho que ainda andei plantando pra ela...

14 de setembro de 2011

Miss Angola é eleita Miss Universo.

Foi eleita a Miss Universo 2011, Leila Lopes.
O concurso foi realizado pela primeira vez no Brasil. E a representante de Angola usava vestido do estilista mineiro Alexandre Dutra.
Tenho certeza que todos em Angola estão muito orgulhosos com esta vitoria.
Aqui alem de patriotas, eles sao muito vaidosos. Mesmo dentro da realidade dura de muitos, é mais do que comum ver salões de beleza improvisados em qualquer lugar. Na rua mesmo, numa pequena casinha. Os manicures na rua fazendo as unhas. Sim, quem faz as unhas aqui sao os homens.
Isso sem falar no gosto pelas cores, pelos panos. Elas andam sempre muito coloridas, enfeitadas. E eles também.
Parabéns pela conquista!

15 de junho de 2011

Sangano

A 99km de Luanda e 27km após a Portagem do Kwanza está a entrada para a praia de Sangano. Ao chegar lá embaixo, à esquerda está a aldeia de pescadores, à direita o Complexo Golfinho, com restaurante e bungalows. Um pouco mais à frente, o Complexo Pirata.
A praia tem algumas zonas de sombra por causa das árvores ao longo do areal. E aí é possível também acampar. Sempre se encontram algumas barracas por ali. Há dezenas de caranguejos, Maria-farinhas à beira-mar.

É bom reservar mesa num dos restaurantes da praia. E encomendar logo o almoço. Nós nos distraímos na praia e quase ficamos sem peixe.
Se quiser um ambiente mais simples, vá ao Careca. Fica no centro da aldeia de pescadores.
Um areal extenso convida para o passeio a pé. Miúdos passam com lagostas acabadas de pescar à procura de comprador. Vi um outro crustáceo que chamam de ‘brocha’ e que eu nunca tinha visto antes.
O restaurante é simples e rústico, mas com mesas e bancos corridos em madeira. Redes de pescadores e cascos de tartaruga ficam pendurados. Fiquei impressionada com a quantidade deles. Sentamos sem pressa, com o mar em frente. Peixe fresco e lagosta, pescados na hora mesmo e grelhados logo em seguida. Servidos com legumes cozidos também na hora.
O pôr do sol maravilhoso fecha o dia de praia. Um ou outro barco colorido aproveita ainda para estender uma rede. Para os que ficam, a noite continua mais tranquila. O luar cheio que ilumina toda a praia...


9 de maio de 2011

Noivas no Shopping

Em Luanda existe um único shopping, pelo menos por enquanto.
Já estive lá algumas vezes e fiquei surpresa nas primeiras vezes ao ver várias noivas do lado de fora. Elas ficam próximas da entrada, onde existem alguns pequenos jardins. Logo ali nas saídas para o estacionamento.
E não são só as noivas. Mas noivos, padrinhos, damas de honra, etc.
Tive que perguntar o que eles iam fazer ali. Então descobri que eles vão para fazer as fotos. Como a cidade dispõe de poucos lugares públicos bonitos, tais como jardins e praças, resta aos recém-casados fazer suas fotos na frente do shopping Center.



Ainda há muito para se reconstruir por aqui.

27 de abril de 2011

Oiça o rádio!

Oiça = ouvir.
Mal das oiças = aquele que escuta mesmo male.
Se estiver na Angola vale à pena ouvir as notícias no rádio. Eu sempre escuto as rádios locais quando estou no carro, geralmente presa num trânsito de horas para o trabalho.
Vou citar algumas notícias que escutei apenas hoje.
A primeira comentava sobre uma epidemia de conjuntivite e doenças diarréicas agudas. E sobre 3 casos confirmados de cólera.
Uma entrevistada, que não cheguei a compreender quem era, aconselhava a população a lavar bem as mãos como forma de se evitar a transmissão.
Agora o detalhe mais importante é que a cidade de Luanda está sem abastecimento de água há mais de uma semana. Uma cidade inteira, com uma população estimada pela ONU* em 13 milhões de habitantes, sem nenhum fornecimento de água. (*O último recenseamento foi realizado em 1973 e era de quase 6 milhões de habitantes naquela época. Agora, será que as políticas públicas são definidas a partir do censo ou da estimativa?!)
Para quem vive em grandes condomínios ou hotéis, grandes reservas de água são sempre um pré-requisito básico. E caminhões-pipa reabastecem os tanques. Mas o resto da população, esses ficam à mercê das doenças. E como a época é de chuva, a falta de saneamento básico conjugada com a falta de água são uma combinação mais do que certa para isso.
Mas voltando ao rádio...
Escutei hoje também o repórter anunciando: “Aumentam os casos de violência sexual aos homens no Zimbabwe”. Achei graça na notícia porque nunca tinha ouvido falar nesse crime. E fiquei imaginando se um homem teria coragem de entrar numa delegacia e dizer “Doutor Delegado, eu fui estuprado”. Ou, ainda, ir no IML fazer uma perícia. No Brasil ainda se tenta educar os homens a fazer o exame de toque. Vai ver o crime até existe, só não existe a estatística. Vai saber... De qualquer forma, é bom se cuidarem no Zimbabwe.
Um outro programa imperdível é o do Jojó. Nas manhãs de Sábado você vai ver 90% dos angolanos sintonizados na mesma freqüência.
Ele faz críticas ao governo, ajuda a encontrar pessoas, resolve problemas da população. E acima de tudo não se cala.
Já sofreu ameaças e inclusive atentados. Mas entra no ar e canta uma musiquinha dizendo: “Morri, morri, eu faleci”! E em seguida diz: “Mas eles não me calam!” É no mínimo engraçado.

25 de abril de 2011

Desejo, necessidade, vontade! Você tem fome de que?

Escutei dois funcionários conversando.
Um dizendo ao outro que ficasse tranqüilo, que tentasse se distrair. Mas o primeiro perguntando como poderia se distrair se o dinheiro tinha acabado. Se não tinha como pagar o aluguel e que mais cedo ou mais tarde a família dele teria que sair de onde estava, sem ter pra onde ir.
Muito triste ver a preocupação de um rapaz tão novo (com seus vinte e poucos anos). E com problemas tão graves. Com uma condição social ‘enfadante’.
E acabei me lembrando de uma história que ouvi de um amigo americano que mora na África do Sul com a família, também a trabalho. Lá eles têm uma empregada. Certo dia, deram um livro que ela apreciava de presente. E de repente ela começou a chorar. Ficou tão emocionada em receber a oferta que deixou chocados os patrões. Então ela contou que NUNCA na vida dela tinha sido capaz de comprar algo que quisesse. Alguma coisa que tivesse tido vontade. Tudo na vida dessa mulher tinha sido comprado para suprir uma necessidade. Jurou guardar esse livro para sempre, como quem recebe uma jóia.
Parei pra pensar em quantas coisas eu compro por necessidade e, quantas outras, por vontade, ou até mesmo puro consumismo. E ela ali, extremamente feliz diante de um objeto que talvez custasse U$10 ou U$20.
Essa felicidade que tanta gente tem dificuldade em encontrar. Talvez os anti-depressivos não fizessem tanto sucesso se as pessoas conseguissem enxergar a vida assim tão simples. E por outro lado o quanto poderiam ser mais felizes aqueles que vivem na necessidade.

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...


20 de abril de 2011

Enquanto isso na academia...

Cheguei e fui logo me rematricular.
Na primeira aula de ginástica presenciei uma cena que me deixou boquiaberta. A aula foi às 10 horas da manhã. No final todas as alunas guardam os colchonetes no fundo da sala.
Mas uma aluna deixou o seu colchonete largado no chão. A outra viu e foi lhe chamar a atenção:
Sra. 1: Com licença, não é aí o lugar do colchonete. A Sra deve guardar ali.
Sra. 2: Eu estou cansada e vou deixar aqui mesmo. Mais tarde alguém vem arrumar a sala e guarda.
Sra. 1: Mas não é assim que funciona. Não custa nada a Sra guardar.
Sra. 2: Eu não estou afim e não vou guardar. E quem é você pra me dizer o que tenho que fazer??? Já virando as costas e saindo.
Fiquei impressionada como as pessoas podem se exaltar tanto ainda tão cedo. Eu estava saindo exausta da aula, o corpo relaxado, a mente mais ainda. Desnecessário.

18 de abril de 2011

Começar de novo

E contar conTigo
Vai valer a pena ter amanhecido...
Cá estou eu de volta à Luanda.
Pela primeira vez após um longo período de férias. Tão longo que me fez esquecer alguns detalhes. Que me fez por alguns instantes sentir um certo estranhamento ao redescobrir cheiros, lugares, sensações. Pequenas coisas nas quais reconhecemos um lugar. Sabe aquela coisa de cheiro de infância? Ou um perfume que te lembra uma pessoa, um lugar? Talvez até uma comida. Algo que marcou algum momento da sua vida.
Definitivamente a música daqui vai me fazer falta algum dia.
Acho estranho olhar pela janela e ver uma paisagem tão familiar e ao mesmo tempo tão distante. A possibilidade de ir embora e nunca mais ver uma imagem que fez parte da minha vida por tanto tempo.
Acho que mal cheguei e estou nostálgica. Mas é mais do que natural sentir saudades antecipadas. Saudade de um lugar que vai deixar saudade. De onde tenho sido a cada dia mais feliz.
E lá vou eu para minha terceira temporada da série Angola. So far, so good.

24 de março de 2011

Pack light

Tenho tentado aprender o "pack light" em todos os sentidos da expressão. Acabei de ler "A arte de ser leve".
E ironicamente estou começando a preparar minha mala para retornar à Angola. Que dificuldade... rs


"Coisas são só coisas
servem só pra tropeçar
têm seu brilho no começo
mas se viro pelo avesso
são fardo pra carregar
"




1 de fevereiro de 2011

Hotel Presidente

Morei no Hotel Presidente por alguns meses.
E assim minha experiência pode ser um pouco diferente da maioria das pessoas, ou dos demais hóspedes.
Logo que cheguei tive o choque com a água, que está num dos primeiros posts deste blog.
Senti falta de uma piscina e de um ginásio melhor.
A recepção do hotel é bonita, mas o resto do hotel ainda está sendo reformado. Já acordei vários dias com o barulho das obras na minha janela. Também já dei de cara com 2 pedreiros na janela do quarto. Aliás, são confortáveis os quartos, apesar de antigos. O carpete dependendo do quarto pode ter um cheiro desagradável.
Mas calma! Não quero falar só o ruim. Por incrível que pareça eu gosto do hotel!
É antigo, a TV precisa ser trocada por uma mais moderna. Os quartos podiam ainda ter cafeteira, relógio-despertador, ferro de passar roupa. Algumas ‘amenidades’ que por aqui não são mesmo muito comuns.
Mas a segurança é excelente. A arrumação dos quartos também. Nunca tive problema com nada que sumisse ou com a limpeza.
O restaurante é maravilhoso. O café da manhã é uma delícia. No almoço um Buffet ótimo. Difícil aqui é manter o peso.
Além disso, a simpatia do pessoal: porteiros, bagagistas, a equipe do restaurante, do bar.
Tive uma excelente estada no hotel e apesar dos pesares RECOMENDO!

31 de janeiro de 2011

Vai ter luta!!!

Um dia desses eu saí do trabalho e pedi ao motorista para parar em alguma farmácia no caminho.
Logo que ele viu uma, encostou o carro e eu desci.
Comprei meu remédio, e no máximo 5 minutos depois já estava voltando. Mas havia um segurança parado na porta do carro.
Ele xingava o motorista e perguntava por que ele não o respeitava. Se era angolano por que não podia lhe respeitar já que quem ele levava não eram angolanos. (Preconceito às avessas)...
E o segurança gritando e se exaltando cada vez mais. E não deixando com que eu entrasse no carro.
Eu fiquei perplexa e sem entender como aquilo tudo havia começado.
Então o motorista desceu do carro, e o outro o seguiu. Assim consegui entrar e trancar logo a porta.
Mas o mais engraçado foi quando o motorista deu um empurrão bem forte no peito dele. Eu achei que o outro ia partir pra cima e os dois iam se matar chão afora, como já vi tantas vezes no trânsito por aqui.
Mas ao contrário o outro murchou. Encolheu. Intimidou-se. kkkk
Afinal era só barulho. Queria ganhar no grito.
Depois vi que o coitado queria apenas mostrar serviço mesmo. Havíamos encostado o carro em frente ao pequeno restaurante em que ele trabalha. E ele veio tirar satisfação.
Enfim, seria cômico senão fosse trágico.
Ou melhor, dessa vez foi cômico, mas poderia ter sido trágico.

10 de janeiro de 2011

chIque, chEque, chOque!!!

Mais uma expressão tipicamente angolana...
CHIQUE – aquele com quem você passeia de mãos dadas no shopping, chega nos eventos sociais e de forma geral desfila pela cidade.
CHEQUE – aquele que paga as suas contas. Do restaurante, da academia de ginástica, das lojas, cabelereiro e quem sabe até água, luz e telefone!
CHOQUE – aquele com quem você sente saírem faíscas, arrepio, frio na barriga, aquela coisa de pele. Ou seja, aquele que dá choque mesmo.
E me garantiram que tem muita angolana que tem os 3 ao mesmo tempo. Só não entendi bem se são 3 pessoas, ou um 3 em 1. Talvez 2 em 1+1. Parece que não sou boa em matemática! ;o)

5 de janeiro de 2011

Linguagem Universal

É a linguagem do corpo. E não pensem logo bobagem!
Estou falando de expressão corporal. Daquela reação que aparece no rosto da pessoa por uma fração de segundos. E que só os atentos percebem. É o que o corpo diz independentemente do resto. E que podemos compreender em qualquer parte do mundo porque vai além do idioma ou da cultura.
E o que me inspirou a escrever hoje foi uma aula de ginástica.
Algo que hoje encontramos em toda parte e que faz tão bem! Pela primeira vez fiz uma aula numa academia aqui em Luanda. E foi uma delícia.
Quer dizer, não começou tão bem...
Primeiro o problema dos preços.
A matrícula, que eles chamam de jóia, tem o preço de uma jóia mesmo. U$150,00! Só matrícula gente. Pra começar a brincar.
Numa academia boa, mas que não está entre as TOP's, a mensalidade varia de U$80,00 a U$140,00. 
Depois desse primeiro choque, entrei numa das salas pra fazer aula de Fit Step. Que é nada mais, nada menos, que um nome moderninho para aquela veeeelha aula de step de 1800 e antigamente.
Pra completar a professora era chilena, eu brasileira, duas alunas angolanas e uma outra tão branquinha que devia ser da Sibéria ou da Finlândia. Umas coreografias parecendo 'Dança dos Famosos'. Toda hora ela parava, desligava o som e mandava a gente repetir. Fazer bem lento até pegar. Ai que preguiça!
Em outros tempos eu ficaria lá. Sofrendo, mas agüentaria até o fim. Só que dessa vez perdi a paciência. No meio da aula parei e guardei meu step. Aí a chica preguntou o que havia. Eu disse que não dava. ‘Desisto!’.
Estava era louca pra chegar a tempo no Total Training. A sala era bacanérrima. É como se fosse spinning, mas tem esteira, elíptico e bicicleta. Um som bombante, professor angolano super animado e ótimo Dj. Aí prontos pá! Me senti em casa.
A aula parecia feita pra mim. Os exercícios todos pareciam desenvolvidos pelo meu personal. Creio que porque a grande maioria das angolanas são como eu: bundão, coxa grossa. Haja aeróbico pra dar conta de tanto material. E no fundo acho que eu é que sou como elas. Pelo jeito eu definitivamente tenho um pezinho no continente de cá...