27 de abril de 2011

Oiça o rádio!

Oiça = ouvir.
Mal das oiças = aquele que escuta mesmo male.
Se estiver na Angola vale à pena ouvir as notícias no rádio. Eu sempre escuto as rádios locais quando estou no carro, geralmente presa num trânsito de horas para o trabalho.
Vou citar algumas notícias que escutei apenas hoje.
A primeira comentava sobre uma epidemia de conjuntivite e doenças diarréicas agudas. E sobre 3 casos confirmados de cólera.
Uma entrevistada, que não cheguei a compreender quem era, aconselhava a população a lavar bem as mãos como forma de se evitar a transmissão.
Agora o detalhe mais importante é que a cidade de Luanda está sem abastecimento de água há mais de uma semana. Uma cidade inteira, com uma população estimada pela ONU* em 13 milhões de habitantes, sem nenhum fornecimento de água. (*O último recenseamento foi realizado em 1973 e era de quase 6 milhões de habitantes naquela época. Agora, será que as políticas públicas são definidas a partir do censo ou da estimativa?!)
Para quem vive em grandes condomínios ou hotéis, grandes reservas de água são sempre um pré-requisito básico. E caminhões-pipa reabastecem os tanques. Mas o resto da população, esses ficam à mercê das doenças. E como a época é de chuva, a falta de saneamento básico conjugada com a falta de água são uma combinação mais do que certa para isso.
Mas voltando ao rádio...
Escutei hoje também o repórter anunciando: “Aumentam os casos de violência sexual aos homens no Zimbabwe”. Achei graça na notícia porque nunca tinha ouvido falar nesse crime. E fiquei imaginando se um homem teria coragem de entrar numa delegacia e dizer “Doutor Delegado, eu fui estuprado”. Ou, ainda, ir no IML fazer uma perícia. No Brasil ainda se tenta educar os homens a fazer o exame de toque. Vai ver o crime até existe, só não existe a estatística. Vai saber... De qualquer forma, é bom se cuidarem no Zimbabwe.
Um outro programa imperdível é o do Jojó. Nas manhãs de Sábado você vai ver 90% dos angolanos sintonizados na mesma freqüência.
Ele faz críticas ao governo, ajuda a encontrar pessoas, resolve problemas da população. E acima de tudo não se cala.
Já sofreu ameaças e inclusive atentados. Mas entra no ar e canta uma musiquinha dizendo: “Morri, morri, eu faleci”! E em seguida diz: “Mas eles não me calam!” É no mínimo engraçado.

25 de abril de 2011

Desejo, necessidade, vontade! Você tem fome de que?

Escutei dois funcionários conversando.
Um dizendo ao outro que ficasse tranqüilo, que tentasse se distrair. Mas o primeiro perguntando como poderia se distrair se o dinheiro tinha acabado. Se não tinha como pagar o aluguel e que mais cedo ou mais tarde a família dele teria que sair de onde estava, sem ter pra onde ir.
Muito triste ver a preocupação de um rapaz tão novo (com seus vinte e poucos anos). E com problemas tão graves. Com uma condição social ‘enfadante’.
E acabei me lembrando de uma história que ouvi de um amigo americano que mora na África do Sul com a família, também a trabalho. Lá eles têm uma empregada. Certo dia, deram um livro que ela apreciava de presente. E de repente ela começou a chorar. Ficou tão emocionada em receber a oferta que deixou chocados os patrões. Então ela contou que NUNCA na vida dela tinha sido capaz de comprar algo que quisesse. Alguma coisa que tivesse tido vontade. Tudo na vida dessa mulher tinha sido comprado para suprir uma necessidade. Jurou guardar esse livro para sempre, como quem recebe uma jóia.
Parei pra pensar em quantas coisas eu compro por necessidade e, quantas outras, por vontade, ou até mesmo puro consumismo. E ela ali, extremamente feliz diante de um objeto que talvez custasse U$10 ou U$20.
Essa felicidade que tanta gente tem dificuldade em encontrar. Talvez os anti-depressivos não fizessem tanto sucesso se as pessoas conseguissem enxergar a vida assim tão simples. E por outro lado o quanto poderiam ser mais felizes aqueles que vivem na necessidade.

Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...
A gente não quer só comida
A gente quer bebida
Diversão, balé
A gente não quer só comida
A gente quer a vida
Como a vida quer...
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...
A gente não quer só comer
A gente quer comer
E quer fazer amor
A gente não quer só comer
A gente quer prazer
Prá aliviar a dor...
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

Diversão e arte
Para qualquer parte
Diversão, balé
Como a vida quer
Desejo, necessidade, vontade
Necessidade, desejo, eh!
Necessidade, vontade, eh!
Necessidade...


20 de abril de 2011

Enquanto isso na academia...

Cheguei e fui logo me rematricular.
Na primeira aula de ginástica presenciei uma cena que me deixou boquiaberta. A aula foi às 10 horas da manhã. No final todas as alunas guardam os colchonetes no fundo da sala.
Mas uma aluna deixou o seu colchonete largado no chão. A outra viu e foi lhe chamar a atenção:
Sra. 1: Com licença, não é aí o lugar do colchonete. A Sra deve guardar ali.
Sra. 2: Eu estou cansada e vou deixar aqui mesmo. Mais tarde alguém vem arrumar a sala e guarda.
Sra. 1: Mas não é assim que funciona. Não custa nada a Sra guardar.
Sra. 2: Eu não estou afim e não vou guardar. E quem é você pra me dizer o que tenho que fazer??? Já virando as costas e saindo.
Fiquei impressionada como as pessoas podem se exaltar tanto ainda tão cedo. Eu estava saindo exausta da aula, o corpo relaxado, a mente mais ainda. Desnecessário.

18 de abril de 2011

Começar de novo

E contar conTigo
Vai valer a pena ter amanhecido...
Cá estou eu de volta à Luanda.
Pela primeira vez após um longo período de férias. Tão longo que me fez esquecer alguns detalhes. Que me fez por alguns instantes sentir um certo estranhamento ao redescobrir cheiros, lugares, sensações. Pequenas coisas nas quais reconhecemos um lugar. Sabe aquela coisa de cheiro de infância? Ou um perfume que te lembra uma pessoa, um lugar? Talvez até uma comida. Algo que marcou algum momento da sua vida.
Definitivamente a música daqui vai me fazer falta algum dia.
Acho estranho olhar pela janela e ver uma paisagem tão familiar e ao mesmo tempo tão distante. A possibilidade de ir embora e nunca mais ver uma imagem que fez parte da minha vida por tanto tempo.
Acho que mal cheguei e estou nostálgica. Mas é mais do que natural sentir saudades antecipadas. Saudade de um lugar que vai deixar saudade. De onde tenho sido a cada dia mais feliz.
E lá vou eu para minha terceira temporada da série Angola. So far, so good.