7 de maio de 2012

Fura-fila

"O psicólogo Fábio Iglesias propõe que o estudo das filas possa ser usado como instrumento prático para analisar valores culturais em um eixo que vai do individualismo ao coletivismo. Se alguém perguntar a um americano quem é ele, provavelmente irá contar seu nome, profissão e gostos pessoais. "Se fizer a mesma pergunta a um brasileiro, há mais chances de que ele diga a qual família pertence, de qual religião é adepto ou para qual time de futebol torce", diz Iglesias. Ou seja, o brasileiro costuma identificar-se mais com grupos. Em uma cultura mais individualista, como a americana, as pessoas tendem a ser mais autônomas, e espera-se que reclamem mais quando alguém fura fila porque o outro está invadindo seu espaço. Já no Brasil os indivíduos precisam mais do grupo para guiar suas atitudes. Quando vêem um "furão", provavelmente vão reparar nas atitudes dos companheiros antes de dizer qualquer coisa".
 Revista Galileu, Agosto de 2005.

Esse texto me fez repensar sobre um fato que eu detesto em Angola. O irritante hábito de furar filas:
No transito é normal ver aquele apressadinho ultrapassando pela direita e se enfiando na sua frente.
No supermercado sempre vai ter algum tentando entrar na sua frente.
No restaurante, no shopping, ou onde quer que possa haver uma fila, aqui chamado de "bicha", sempre haverá a figura do famoso fura-fila. Esse ser que me tira do sério.
E sempre me impressionou a complacência dos demais Angolanos. Que quando presenciam calados.
Eu lá, pronta pra armar um belo barraco e mandar o folgado para o final, para esperar como eu fiz e todos os outros fizeram. Mas eles não. Ficam mudos, assistem parados.
E eu que semper achei que fosse uma questão simplesmente de educação, agora vejo um pouco mais além. Eis aí outro motivo: a sua identificação na coletividade. E quem sabe até um aspecto superior ao ser menos individualista. 

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