16 de julho de 2012

Mulenvos

Hoje fui com um grupo participar num projeto que atende crianças carentes, na região de Mulenvos.
A princípio eu tinha pensado que fosse um bairro de Luanda, mas na verdade é um município.
Acho que nem em meu próprio país eu jamais tenha me aproximado tanto da pobreza extrema. A pobreza da fome. Da ausência total de saneamento básico e assistência médica.
As casas em si até me surpreenderam, porque são feitas de blocos de concreto e não de barro ou telhas de amianto, como já vi muito no interior de Angola.
Mas ainda assim não há água. Existem alguns pontos de distribuição bem distantes uns dos outros. As mulheres vão com seus baldes e bacias e depois voltam carregando aquele peso na cabeça.
Quando chegamos ao local, já havia várias crianças esperando.
Alguns marionetes chamaram a atenção deles. Fiquei admirada como uma brincadeira simples trouxe tantas risadas.
Mas com algum tempo eles ficam inquietos, brigam uns com os outros; os bebês choram.
Uma criança fez cocô ali mesmo na lona. Os que estavam ao lado reclamaram.
Chega então a tão esperada hora de ganharem o lanche. Um pão e um copo de suco. Simples assim, pão sem nada mesmo.
Mas as crianças se espremem e se empurram na fila.
Uma garotinha, muito esperta, tinha uma caixa de papel na mão. Brincou com ela a manhã toda e eu até então não tinha entendido qual a graça que ela via naquilo como brinquedo. Mas logo a vimos pegando o pão e colocando dentro da caixa. Voltava para o final da fila pra tentar pegar outro. E assim ela já ia para o terceiro. É a lei da sobrevivência.
Os irmãos cuidam uns dos outros. Os mais velhos cuidam dos mais novos. Até aí, tudo bem. Mas vi crianças que aparentavam ter entre 8 ou 10 anos carregando bebês bem pequenos. Um deles claramente não tinha sequer 1 ano. Uma criança carregando outra nas costas, amarrada com os panos.
Várias delas apresentam sintomas de parasitoses. Mas mesmo dando os medicamentos, como ensinar sobre higiene num ambiente assim? Como dizer que devemos lavar as mãos e lavar os alimentos se praticamente não há água? Se vivem em casas sem sequer um vaso sanitário.
Ali mesmo algumas crianças deixavam o pão cair no chão, mas pegavam logo e continuavam a comer.
Ao final tínhamos ainda uma doação de feijão para distribuir. Um dos pacotes rasgou e o feijão caiu e se espalhou, misturou com a terra. Minutos depois vejo uma senhora abaixada no chão, catando grão por grão pra levar. E ela disse: "Hoje vou comer mesmo bem!"
Não tem como sair de um lugar desses sem pensar na própria vida.
Pensei no quanto eu tenho TUDO.
É uma realidade muito distante. Acho difícil até conseguir imaginar como é a vida ali. Por mais que eu tente me colocar no lugar deles, não sei se tenho essa capacidade.









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